sábado, 6 de fevereiro de 2010

Embalagens com pequenas quantidades escondem preços exagerados

Ana Paula Cardoso
RIO - Qual tipo de líquido você imagina que custe R$ 10.380 o litro? Alguma marca exclusivíssima de champagne francês? Um conhaque envelhecido em barris de carvalho que pertenceram à rainha Vitória? Petróleo extraído da mais profunda camada do pré-sal? Nenhuma das alternativas anteriores. Acertou quem pensou em tinta de cartucho de impressora. Mais uma chance: o que pode chegar a custar R$ 500 o quilo? Filé mignon de vitela criada à base de frutas? Caviar russo? Orégano? Acertou quem marcou a última opção.
Em um supermercado do Rio de Janeiro, um pacote com 10g de orégano é vendido por R$ 2,11. Ao fazer uma conta simples, o consumidor leva um susto: está pagando R$ 211 pelo quilo do produto. Caso a embalagem mude e passe a ser em um pote de vidro, como é o caso do orégano da Masterfoods, o preço pula para R$ 5,39 por 12g, o equivalente a R$ 449,16 por quilo. Para o fornecedor da Masterfoods, tanto a origem do produto quanto a funcionalidade da embalagem justificam os valores cobrados.
- Oferecemos quatro tipos diferentes de embalagem: três opções em sachê (cartelas, econômicos e super econômicos), além dos potes de coleção (como as da embalagem de orégano Masterfoods 12g citada acima), que podem ser reutilizados na cozinha do consumidor. Esta é uma embalagem que é durável e reutilizável, auxilia na conservação e com duas opções de dosador facilita o manuseio - explica Gerson Francisco, diretor de negócios de chocolate e food da Mars Brasil, empresa responsável pela comercialização da marca Masterfoods no país.
Outro ponto levantado por Francisco é o fato de o orégano ser uma matéria-prima importada. Diferente da pimenta branca em pó, da Companhia das Ervas, vendida em torno de R$ 9 a embalagem de 12g, o que levaria o quilo a custar R$ 750. O gergelim da mesma marca sai a R$ 7,55 a embalagem com 25g. O valor do quilo do gergelim, neste caso, ficaria em R$ 302.
Também da Companhia das Ervas, 45ml de molho de pimenta malagueta custa R$ 4,31, o que levaria o litro a um custo de R$ 95,77. Em uma prateleira ao lado, na mesma gôndola, um azeite importado, extra virgem, era vendido por menos de R$ 30 o litro.
A empresa garante que se vendesse em grande quantidade os produtos citados, certamente não praticaria os valores alcançados pelos cálculos. Segundo Paulo Sousa, gerente administrativo e financeiro da Companhia das Ervas, é preciso esclarecer alguns pontos.
- No caso da pimenta branca, a embalagem é um diferencial. É decorativa e tem um custo elevado de processamento. A matéria-prima em si não eleva o preço, por que representa de 7% a 10% do custo total. Mas temos mão de obra, impostos, produção, que envolve uma série de exigências, inclusive sanitárias. Sem contar a margem dos supermercados e outros pontos de venda, que podem chegar a 60% do valor final - informou o executivo da Companhia das Ervas.
O presidente da Associação Brasileira dos Supermercados (Abras), Sussumu Honda, não tem uma estimativa sobre a margem de lucro média aplicada por supermercados na venda de especiarias. Honda explica que os supermercados vendem mais caro produtos que não são considerados gêneros de primeira linha.
- O supermercado não negocia preços para este tipo de produto. Quem compra orégano ou pimenta em supermercado quer pouca quantidade e as vendas não se comparam a produtos como leite ou feijão, por exemplo. Quem compra em grandes quantidade, como donos de restaurantes, procura fornecedores no atacado e não no varejo - analisou o presidente da Abras.
Não vendemos tinta, vendemos impressão
Em um site de venda de artigos para informática, um cartucho de tinta colorida para impressora, HP60, com 5ml de tinta, é oferecido por R$ 51,90. Ao calcular o valor do litro, o consumidor pode se surpreender : R$ 10.380. A empresa informa que um de seus cartuchos de maior saída, o HP 75xl, vendido a R$ 104,90 e embalagem com 12 ml, cujo valor do litro custaria R$ 8.741,66, é capaz de fazer uma média de 480 impressões.
Segundo Luís Esteter, diretor da divisão de suprimentos da Hewlett-Packard (HP), o questionamento a respeito do valor do litro de tinta de impressora é o tipo de manifestação recorrente tanto no serviço de atendimento a clientes quanto no site da empresa. O executivo reforça que um cartucho de impressora não é composto somente de tinta.
- Não vendemos litros de tinta. Vendemos impressão - afirma o diretor da HP.
A própria HP informa o preço médio por impressão: R$ 0,22. Sendo assim, parte-se do pressuposto que um litro desta tinta poderia imprimir 39.772 vezes. É um custo ainda é alto. Em uma gráfica consultada pelo site do GLOBO, cobrava-se R$ 169 por 5 mil panfletos em papel A4, o que daria um custo aproximado de R$ 0,04 por impressão ou R$ 1.352 por 40 mil impressões. A diferença fundamental é que na gráfica o volume de impressões deve ser feito em conjunto e com a mesma imagem, enquanto a impressora permite ter cada página diferente da outra e ao longo de muito tempo.
Também chama atenção o fato de um dos modelos de impressora da própria marcada ser vendida, nas principais lojas, por aproximadamente R$170. A reposição de dois cartuchos (10 ml o preto e 8 ml o colorido), fica em torno de R$ 130,00.
O executivo reforça que um cartucho de impressora envolve não somente a tinta, mas uma série de técnicas patenteadas, que custaram caro para serem desenvolvidas.
- Por exemplo, um dos componentes dp cartucho é a cabeça de impressão, um componente de alta tecnologia. É uma espécie de regulador de saída da tinta, um dosador de altíssima precisão, que vai dar a forma das letras e imagens na medida certa. Para se ter uma ideia da complexidade e da característica inovadora desta tecnologia, já existem estudos até no campo da medicina para testar esta mesma tecnologia em aplicações de medicamentos na pele - contou Esteter.
Sobre o fato de a reposição de tinta custar quase a mesma coisa que uma impressora nova, Esteter justifica:
- Praticamente 70% do processo de impressão está no cartucho. Ele é a alma da impressão.
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2010/02/01/embalagens-com-pequenas-quantidades-escondem-precos-exagerados-915757666.asp

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