segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

OBAMA ESTÁ SEM RESPALDO NO CONGRESSO

Thomas L. Friedman
Do The New York Times
A característica mais impressionante da campanha de Barack Obama pela presidência dos Estados Unidos foi o movimento jovem, engajado e conectado à internet que ele mobilizou para ser eleito. Um ano depois, o que mais impressiona é como esse movimento simplesmente desapareceu.
Em parte, o sumiço se deve ao fato de que a equipe de Obama deixou que ele se dissipasse para focar no que era mais urgente - o pacote de estímulo para a economia - e também no objetivo principal - a reforma da saúde - fazendo, para isso, o jogo político necessário no Congresso.
O presidente parece ter pensado que seus aliados no Senado e no Congresso eram tão numerosos que ele não precisaria mais mobilizar "o povo" para conseguir seus objetivos políticos. Obama transformou seus apoiadores em plateia do chamado "Programa de Harry e Nancy" (em referência aos líderes de minorias do Senado e Congresso, Harry Reid e Nancy Pelosi, respectivamente). E, ao mesmo tempo, o movimento engajado que elegeu o presidente adormeceu aos poucos, pensando que bastava a esta geração eleger o primeiro presidente afro-americano e que nada mais era necessário.
Bem, eis aqui o meu conselho à administração Obama: Se você pensa que a reação mais correta agora é mover mundos e fundos contra os banqueiros, está enganado. Peço encarecidamente que reestabeleça as políticas econômicas com cautela. Lembre-se: Americanos não costumam ir às ruas lutar por políticos vingativos. Líderes assim não nos inspiram. Nós saímos às ruas pelos políticos que nos inspiram e nos dão esperança. Esses sim conseguem nos engajar. E este é o momento perfeito para estarmos engajados.
Obama deve estabelecer novos objetivos. O que país mais precisa neste momento não são estímulos políticos, mas de cidadania. Precisamos de milhões em verbas para os jovens norte-americanos, não apenas os gênios, para que se envolvam com a inovação e o empreendedorismo novamente. Precisamos fazer em 2010 o que Obama deveria ter feito em 2009: O ano da inovação, o ano em que a América apostará no recomeço.
Obama deve ter como maior foco em seu mandato fomentar um milhão de novas empresas que não apenas gerem vagas temporárias no mercado de trabalho, mas empregos que mantenham os Estados Unidos na vanguarda. A melhor forma de combater os movimentos conservadores, que desejam exclusivamente barrar a evolução, é estimular um Movimento de Inovação, para fomentar as novas investidas. Se não inventarmos novos produtos e serviços que tornem as pessoas mais produtivas, saudáveis e entretidas - e que possamos exportar para o mundo - jamais poderemos pagar pela reforma da saúde que nosso povo tanto precisa, muito menos dar conta de nossas dívidas.
Obama deveria reunir todos os inovadores do país e perguntar: "Que políticas, que incentivos fiscais precisamos agora para que vocês se multipliquem mil vezes?" - e fazer disso a sua máxima prioridade. Inspirando, ressuscitando e incentivando um novo país.
Para ressuscitar esse movimento jovem, ele deve divulgar a todas as crianças dos Estados Unidos dois programas que já têm seu apoio: O primeiro é o National Lab Day. Inaugurando em novembro de 2009 por uma aliança de educadores e associações de ciências e engenharia, o Lab Day tem como objetivo incentivar uma onda de inovação, reunindo cientistas e engenheiros veteranos com alunos da rede de ensino para gerar milhares de projetos científicos pelo país.
Qualquer professor nos EUA, explica o empreendedor Jack Hidary, presidente do NLD, pode visitar o site NationalLabDay.com e juntar-se a um projeto que ele ou ela tenha interesse de ensinar ou pesquisar possibilidades. O NLD junta professores e cientistas ou engenheiros voluntários de acordo com a disciplina.
"Quando você estabelece a dupla professor/cientista, os alunos se comunicam com eles diretamente ou via Skype para colaborar em um determinado projeto", descreve Hidary. "Temos uma turma em Chicago procurando engenheiros que os ensinem a construir uma ponte. Em Idaho, há um grupo de alunos que procura cientistas que os ajudem a construir um delta fluvial em aula".
O presidente deve também se comprometer a levar a NFTE (Rede de Ensino de Empreendedorismo) para todos os bairros de baixa renda dos EUA. A NFTE trabalha com professores de ensino médio e fundamental para auxiliá-los a ensinar o empreendedorismo. O foco do programa está no concurso nacional de incubadoras, que conta com a participação de 24.000 crianças e jovens. Cada aluno precisa inventar um produto ou serviço, formular um plano de negócios e executá-lo. A NFTE (www.NFTE.com) trabalha apenas em áreas de baixa renda, então muitos desses jovens fazem parte de minorias.
Em novembro, foi lançado o documentário "Ten9Eight", que acompanhou doze alunos que chegaram às finais da competição. Obama deveria promover esse filme, para que ele seja assistido por todas as escolas nos Estados Unidos. É um dos filmes mais emocionantes e inspiradores dos últimos anos. Você pode encontrar mais detalhes em www.ten9eight.com.
Os três finalistas deste ano, disse Amy Rosen, diretora da NFTE, "foram um filho de imigrantes que fez um curso com a empresa fiscal H&R Block e inventou uma empresa fiscal para alunos do ensino médio, uma jovem autodidata que aprendeu sozinha a costurar e desenhar vestidos e o vencedor, um rapaz afro-americano que produziu uma linha de camisetas com mensagens de cidadania".
Se quer um país com mais empregos, incentive novos talentos, novos Steve Jobs. Esse deveria ter sido o foco de Obama desde o primeiro dia de mandato e é nisso que ele deve focar a partir de agora.
Thomas L. Friedman é colunista do jornal The New York Times desde 1981. Foi correspondente-chefe em Beirute, Jerusalém, Washington e na Casa Branca (EUA). Conquistou três vezes o Prêmio Pulitzer, até que em 2005 foi eleito membro da direção da instituição. Artigo distribuído pelo New York Times News Service.
Opiniões expressas aqui são de exclusiva responsabilidade do autor e não necessariamente estão de acordo com os parâmetros editoriais de Terra Magazine.
Terra Magazine

Nenhum comentário:

Postar um comentário