segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Justiça dos Estados atrasa meta nacional para processos, comentário ao artigo do juiz federal Roberto Wanderley

O que se pode naturalmente constatar, sobre tratar-se de uma inconsequência aplicar mecanismos privados ao controle e metrificação do setor público, sobretudo do setor judiciário, rico em singularidades decorrentes do próprio material de trabalho e do formato de suas carreiras, é que uma política de metas para a Administração da Justiça, no Brasil e em toda parte do mundo ocidental, é um verdadeiro pano de fundo cujos objetivos são outros que não aqueles por ela declarados. Estamos ultrapassando mais um cenário midiático que reúne a propriedade de dar fama aos seus cultores. Somos os operários dessa ribalta e nem sequer ganhamos para isso.
A rotina em alusão é um número cabalístico que não assenta em nenhum referencial científico digno de nota e de adequação. Decisões judiciais não podem ser tratadas como simples elemento estatístico. Há muito mais em seus conteúdos do que a prepotência pode supor, ou talvez suponha realmente, embora a tudo negligencie solenemente. A vez em que o objeto não está conforme o método, não há solução previsível.
A frustração é, por isso mesmo, o resultado natural que decorre do edifício imaginário que todos temos sido forçados a construir e o fazemos sem muito esforço para agradar as cúpulas que nos sufocam e não nos justificam cronicamente. Aliás, quem irá julgá-las de seus malfeitos?
Resta admitir que ainda vivemos um cenário de autoritarismo edulcorado de democracia formal estampada na Carta, mas que por isso mesmo não sai do papel. A filosofia renascentista nos ensinou que "todo vício fica agravado quando dissimulado de virtude." Portanto, resta o combate a toda forma de dissimulação ou que continuemos em nosso dia-a-dia medíocre como cabe a todo magistrado que só tem ânimo para botar ladrão de galinha na cadeia ou não suscetibilizar poderosos, dentro ou fora da própria Instituição a que pertencemos, por forma a não nos prejudicar na carreira que abraçamos.
Forte abraço,
Roberto W

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